domingo, 25 de outubro de 2009

Ronaldo e Maitê

Acho muita piada a algumas reacções que circulam pela internet ao video de Maitê Proença, em que reforçam a inferioridade do povo português, apresentando como cabeça de argumento a organização do campeonato do Mundo de Futebol em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016. Ora, eu que admiro muito o que de melhor o Brasil tem, principalmente a sua expressão cultural, não vou entrar nesse jogo pois correria o risco de aparentar a sua desvalorização.

Gostava sim de não ver alguns compatriotas a cometer o mesmo erro que a Maitê. Não digo despirem-se para a Playboy (porque nesse domínio a Maitê tem relamente bons trunfos), mas confundirem o sucesso de alguns símbolos com o nosso bom desempenho como povo. Nós não somos muita bons porque o Ronaldo, também nome de craque brasileiro, joga bem à bola. Alguém definiu há 10 ou 20 anos atrás como objectivo estratégico do país ser dos melhores no futebol? Ah, mas temos a Amália! E Portugal é muito bonito! Hum... viajar é preciso...

(Ao contrário destes exemplos, se falarmos num Fernando Pessoa ou num Vasco da Gama, penso que já estamos em patamares diferentes, pois estes representam o consolidar de um conjunto de elementos culturais e de desenvolvimento que nos identificam como povo.)

Ora, enquanto sociedade que quer ser desenvolvida (é uma presunção arriscada, admito) temos desafios muito mais determinantes para o nosso sucesso futuro do que os rankings desportivos. Portugal ocupava em 2008 o 33º lugar no Indíce de Desenvolvimento Humano (HDI) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Em primeiro lugar está um país que é uma merda a jogar à bola, a Noruega. Isto significa que na noruega as crianças vão mais à escola, têm uma esperança média de vida maior, os adultos têm taxas de literacia formal e funcional superiores, o valor produzido por hora de trabalho é superior, com tudo o que daí decorre...

Portugal é o 11º país melhor do mundo em futebol, o país empolga-se com a ida ao mundial... triste vida na Noruega, no 47º lugar do ranking da FIFA.

sábado, 24 de outubro de 2009

Sobre a realidade jornalística

Há uma abordagem à questão da liberdade de expressão que me inquieta. É a que a defende como valor acima de tudo, desvalorizando as suas consequências e a ética dos seus profissionais. Obviamente não está aqui em causa a diversidade de opinião e ângulos, incluindo todas as divergências e o espaço para a sacrossanta cretinice.

A realidade, do ponto de vista jornalístico, político, social, é aquilo que é notícia - o que os profissionais do jornalismo publicam. Para dar um exemplo entre tantos possíveis: alguém sabe quais foram os nomes sondados para ocupar a pasta do Ministério do Ambiente? Sabem os próprios, mas isso não foi notícia, pelo que não pode ser julgado pela população. Tecnicamente, não faz parte daquilo a que convencionamos chamar de realidade.

Aquilo que achamos que é a realidade é extremamente importante. Gosto de pensar no processo de governação como uma cadeia fechada de controlo: O Governo e o parlamento legislam [o processo], há consequências espelhadas pela tal realidade observada [a monitorização], o povo vota [o controlo] e com base nas eleições temos novo parlamento e governo. A monitorização da realidade é um elo fundamental desta cadeia que dá pelo nome de Democracia.



Surge aqui um drama relevante quanto à qualidade de todo o processo de comunicação para as massas. Os níveis de analfabetismo funcional são preocupantes, 48% em 2003 (segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), o próprio acesso à comunicação e a nichos de ângulo jornalístico são obstáculos de peso, o ruído, ... Será que fazia falta haver jornalistas que veículam, com dolo, por incompetência ou cedência a pressões, informações falsas?

É preciso compreender os mecanismos de comunicação, segundo os quais os profissionais da comunicação social podem manipular o que dizem para fazer chegar determinada mensagem, sem efectivamente o explicitar. Uma espécie de 'com a verdade me enganas'.

Se eu disser que o político x é alegadamente corrupto, e que como sou jornalista tenho o direito de ocultar a minha fonte de informação, estou precisamente a expor o político x à acusação que refiro. As palavras-chave que saltam à esmagadora maioria dos leitores são 'politico x' e 'corrupto'. Se, como fez a TVI, mostrar uma imagem esbatida de um grupo de homens com um som rufenho e puser umas legendas onde alguém oferece um suborno para aprovação de um centro comercial e relacionar isso com o primeiro-ministro, o que passa para o público é uma revelação bombástica. Os profissionais que o fizeram, obviamente estão cientes disso. Considero este tipo de actuação absolutamente nojenta.

Nos Estados Unidos, a Fox tem o mesmo tipo de postura perante Barack Obama. Alimentada por Republicanos social-conservadores de direita, a estação traveste pela mesma técnica especulações sobre Obama, passando-os como factos. E Obama, que não é trouxa, já retaliou, seguindo aliás as recomendações do seu homólogo português.


Confunde-se muito a defesa da liberdade de expressão com a da ilegítima expressão jornalística, segundo os canones da sua técnica, e isso dói à Democracia.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Pescadinha de rabo na boca

Tenho uma amiga espanhola, de Sevilha, que trabalha em Lisboa. Em conversa passando pelo TGV, perguntei-lhe da experiência espanhola com a AVE, Alta Velocidad.
Houve no início uma discussão semelhante à que por cá assistimos (ou assistiamos, já que o TGV foi recentemente "referendado" em sede de eleições legislativas...). Hoje os comboios estão sempre cheios, especialmente aos fins-de-semana, com turistas de e para outras cidades espanholas. "Às cidades ficaram tãn pertinho. É increible como ainda discutem isso!"

Em algumas visitas recentemente a Espanha, confesso que passei a admirar um pouco mais a 'forma de fazer' dos nossos vizinhos. Nada de 'os outros é que são bons', mas dá a sensação que interiorizaram melhor a ideia de que é preferível estruturar bem os processos, em sentido lato, o que notei especialmente no que concerne à gestão dos espaços públicos de várias cidades.

O contacto com pessoas e espaços de outras geografias mostra novos horizontes, dá a conhecer outros modelos mentais, dos quais faz sentido retirar o que de melhor têm. Neste sentido, a alta velocidade poderá desempenhar um papel importante em Portugal. Entrando no domínio do surreal, apetece-me dizer que é pena que ainda cá não esteja, a moldar mentalidades que mais facilmente a aceitassem.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Começar

é bom mudar
explorar o desconhecido
novos espaços, pessoas, hábitos.
os neurónios reactivam-se, acordam
novos objectivos, projectos
um novo "nós"
vontade!

novo emprego, hoje.

(e o desejo de continuar a alimentar diariamente a rede neuronal com ideias escritas)

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O Brasil, a propósito dos Jogos Olímpicos em 2016

Num discurso emocionado após a vitória da candidatura do Rio de Janeiro à organização dos Jogos Olímpicos, o presidente Lula disse que o Brasil começou o século como um país do terceiro mundo e vê no acolhimento dos Jogos Olímpicos o reconhecimento do mérito de um país que se afirma cada vez mais como estando na linha da frente do desenvolvimento. "O país saiu do patamar de 2ª e entrou no patamar de país de 1ª classe" afirmou no discurso revelador de grande carisma.
O Brasil é actualmente a 9ª potência económica mundial (dados de 2008 do FMI), havendo estimativas credíveis que apontam para que seja a 5ª em 2016, precisamente o ano dos Jogos Olímpicos. Todavia o país enfrenta graves dificuldades: vincadas desigualdades de oportunidade, elevadas taxas de criminalidade violenta, a desflorestação da maior floresta do mundo, entre outros.
Nos estados melhor sucedidos em termos de índices de qualidade de vida, sabe-se de experiência própria que a grande batalha dos países em vias de desenvolvimento é a da qualificação e não tanto a aposta em indicadores contabilísticos favoráveis a curto prazo. Nos últimos orçamentos de estado, o governo aumentou significativamente as verbas para a educação, especialmente a nível do básico. Esperemos que este e outros investimentos fundamentais continuem a ser feitos, a bem do samba, da caipirinha e de um pouco mais de dignidade para milhões de pessoas.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Rápido e com estilo


quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Rui Rio hipoteca hipóteses de suceder a Manuela Ferreira Leite...


...ao gozar, no Gato Fedorento, com a esquerda em Portugal. Com uma maioria de massa crítica em Portugal que se identifica com a esquerda, não me parece que seja boa estratégia hostilizá-la (além de que o fez de forma parva).

Surdez democrática

A tradição democrática em portugal enferma do que me parece traduzir um problema geral da sociedade: os partidos fecham-se naquilo que são as suas ideias e propostas, rejeitando na totalidade as propostas das restantes forças políticas. Há grande dificuldade em negociar acordos, quando alguns seriam importantes para o país. Os políticos digladiam-se a ver quem consegue o melhor soundbyte, focando-se nas suas divergências.

Na democracia representativa, como a que temos, e que é provavelmente o melhor sistema para os tempos actuais, o povo escolhe pacotes de medidas, sufraga programas compostos por conjuntos de medidas. A utilização de referendos, que permitiria ajustar as escolhas do povo não é prática comum, estando reservada ao que é considerado de grande questão nacional, que seja fracturante na sociedade. Os partidos tentam compensar esta granularidade ouvindo a sociedade civil, fazendo sondagens e adaptando as políticas que preconizam - a este título a alteração da localização do novo aeroporto de Lisboa é um bom exemplo.

Penso que a prática comum de negociar acordos entre as forças políticas, a cooperação com vista à análise de ideias externas que à partida não esteja pejada de anti-corpos, seria benéfica para Portugal. A maior parte das medidas legislativas não está sujeita às ideologias de cada partido - exigem antes bom senso e estudo dos dossiês. Na Alemanha, como noutros países do norte da europa, há uma grande tradição de coligações governamentais que traduz de forma mais equilibrada o rumo que a população deseja dar ao país. No parlamento inglês, apesar dos acesos debates, os opositores têm por tradição contrariar quem discursa com um 'yey', que é uma espécie de "ainda não está lá", ainda.

Temos um longo percurso emocional a percorrer até sermos capazes de negociar os melhores acordos, aproveitando o que de melhor existe nas propostas alheias. Na política e no resto.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Veneza




















sábado, 26 de setembro de 2009

Bairro de lata para extra-terrestres

antes de mais, o diálogo pré-fita:
"- Esse District 9, é bom? Apetecia-me ir ver um filme bom.
-Tem extra-terrestres e tiros, deve ser."

Os motivos que me levaram a ver este filme não foram os melhores, as 6as-feiras tem disto, puxam-me para a parvoeira, mas creio que se filmou direito com uma handy cam (a tentativa aqui foi de fazer um trocadilho com o escrever direito por linhas tortas). Adiante. O filme constrói uma realidade em que extra-terrestres vivem num bairro de lata  em Joanesburgo, partindo-se daí para a pancada (ou como se diz tecnicamente, "para a acção"). A estória é bem contada, em jeito de documentário, e submerge o espectador na acção. Para quem viu Cloverfield, é do mesmo género. A caracterização dos aliens está muito bem conseguida, uma espécie de cruzamento das criaturas menos horripilantes de Giger com a Manuela Ferreira Leite.

Vamos lá então à Ficha técnica:
Título: District 9
Género: aliens e tiros filmados de maneira realista
Cenas que metem impressão: 6/10
Verosimilhança: 8/10 (dentro do surrealismo)
Fotografia: 6/10
Acção: 8/10 (nota da qualidade da acção, não da quantidade de recorrência à mesma)
O que se aprende com o filme: 3/10
Argumento: 6/10 (não leva menos porque o recurso à tanga permitiu fazer um belo filme) 
Global: um honroso 'porreiro páh' 7/10

Lisboa


domingo, 20 de setembro de 2009

Hello World

Já criei vários blogs. O primeiro post custa sempre um bocado a escrever - parece que os neurónios estão frios, ainda não apanharam o ritmo. Fica então este assim.